quarta-feira, 28 de março de 2012

BNG!

01
Bang, escuto. Bang, bang.
Denovo! Grita o oficial responsável.
O que vê. O que sabe.
Ele não precisa dizer, já estamos engatilhado. Nós três.
Bang bang bang
Só acaba quando um dos bangs difere, num baque surdo.
BNG!
Pelotão. Recolher!
Fui eu?

02
Tenho um tique. Mexo o indicador para a palma da mão. Duas, três vezes por segundo.
Se for o primeiro e for bang, não fui eu.
Mas somos sempre os três, juntos.
Ponho as mãos para trás e ando pelo salão devagar.
É que estamos em guerra, me diz um colega com um copo nas mãos.
É. Eu vi nos jornais. Parece que a coisa é séria.

03
Dizem que a bota tem que estar sempre impecável.
Olha-se muito para baixo aqui.
Liza, reluzente. O cadarço tão apertado quanto possível.
Isso eu aprendi.
Não se atira com o dedo. O dedo é somente o final de todo um movimento.
Que começa no pé.
Com a bota.
Tudo fica claro. O joelho levemente flexionado. Se você errar muito, por uma grande diferença, o que vê lhe denuncia e você passa a lavar banheiro.
Bang
Bang
Bang
Denovo!

04
No vestiário ninguém falca nada.
Silêncio sincronizado.
Botas
Divisas
Camisas
Chuveiro
Armários
Agora só amanhã.

05

Ela vem em sete meses.
Está a dois.
O tique no indicador se confunde com um carinho.
Tic
Tic
Tic
BNG
É mesmo preciso? Ela pergunta.
Não sei.
Saio.

06
Hoje eu sei que serei eu. Abro os olhos e vejo através da venda.
Ajusto a bota.
Denovo.
BNG
Bang
Bang
Quebro o silêncio no vestuário.
Fui eu. Hoje fui eu.
Tiram as botas.
Eu sei que fui eu. Eu vi. Vi através da venda. Se vocês fecharem bem os olhos, assim bem apertados, dá pra ver pelas costuras.
Tiram as camisas.
Você, por exemplo. Atirou um pouco pra cima, e você vai lavar banheiro por um mês inteiro.
O chuveiro não lava.
Só amanhã.

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